O Que Falar "Português" Quer dizer. Para uma História Social da Língua Portuguesa no Brasil.
Palavras-chave:
ensino de língua portuguesa; antropologia histórica; violência simbólicaResumo
Ao longo da história do Brasil, “falar bem” a língua portuguesa transformou-se em sinônimo de “inteligência. Essa associação não se construiu nem à toa, nem espontaneamente. O presente artigo tem o objetivo de contribuir para uma história social da língua portuguesa e seu ensino no Brasil, buscando desvelar uma possível ontogênese das práticas sociais pedagógicas deste ensino, considerando o papel da literatura na formação das mentalidades, desde a catequese anchietana até a poesia parnasiana, que estabeleceram modelos de comportamento linguístico a serem seguidos e que, portanto, passaram a ser valorizados pela principal instância de consagração da sociedade letrada, a escola. O ensaio parte da língua como recorte da realidade, como forma de compreensão do mundo, mais do que como meio de comunicação, e alcança o campo dos Estudos Culturais, mais especificamente, dos estudos pós-coloniais e sociolinguísticos. A literatura, por sua vez, está aqui considerada em sua expressão catequética, barroca e parnasiana, não apenas em sua acepção estética, mas como parte de um processo de inculcação de certos valores culturais europeus que implicariam – como implicaram –, necessariamente, no abandono sistemático e contínuo de todas as outras formas culturais dos povos subalternizados, os indígenas que aqui viviam, sua cultura e sua língua, e os africanos para cá trazidos à força. Para tanto, discute-se com Celso Pedro Luft (2002) e Marcos Bagno (1999; 2008), João Adolfo Hansen (2006), Darcy Ribeiro (1995), Sérgio Buarque de Holanda (1995), Paulo Freire e Sérgio Guimarães (2003), Arno e Maria José Wehling (1999) e Albert Memmi (2007). Conclui que o professor de língua portuguesa corresponde hoje, salvaguardadas as devidas proporções, ao sujeito letrado que, desde Anchieta, intenta impor a língua portuguesa não simplesmente como uma língua ideal, mas como a única língua possível, transformando-a, por fim, num verdadeiro instrumento de dominação e exclusão social.
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