EXISTÊNCIAS ESPECTRAIS

DIMENSÕES ESTÉTICO-FILOSÓFICAS DO INOMINÁVEL NO TEXTO UNHEIMLICH DE FREUD

Resumo

Trata-se de discutir as dimensões estético-filosóficas no texto unheimlich de Freud a partir da experiência do indiscernível que o texto propicia. Defendemos que o texto unheimlich contém uma perspectiva existencial dissonante do arcabouço teórico freudiano ao estabelecer um parâmetro estético que não se adequa à formulação do princípio da realidade freudiano. Nesse sentido, a intersecção entre psicanálise, filosofia e estética emerge pelo afastamento da dimensão atributiva do conceito de belo, assim como dos afetos em geral, para se situar na especificidade da produção da angústia. A angústia passa a ter, nesse contexto, uma função existencial que ultrapassa a natureza de afeto: ela é um sinal do caráter espectral da realidade, expressa pela dúvida de existência mais radical acerca dos objetos que noscircundam. O estremecimento do paradigma de realidade imiscui-se, pois, na diretriz estética proposta pelo texto de Freud, a ponto de propormos uma solidariedade entre a moção estética textual e o conceito em causa unheimlich. Esse movimento nos conduz a uma concepção de sujeito, entendida como espaço vazio à luz das teorias de Lacan e Badiou, que desafia a lógica cartesiana e os postulados de pensamento. A título de conclusão, descortina-se que a dimensão espectral de unheimlich propicia um horizonte de reflexão política relevante, pautada na transformação estética da realidade. Propomos, assim, que as próprias condições de possibilidade do pensamento são, em última instância, inventivas; e essa é a razão pela qual a forma de engendrar a realidade aceita modulação.